O reconhecimento recente da comunidade quilombola Beco do Caminho Curto, de Pirabeiraba, distrito de Joinville, motivou o fotógrafo, designer e professor da Univille Roy Schulenburg a expor para o público, na Galeria de Arte Garten, fotos de crianças produzidas durante ações do projeto de extensão Caminho Curto da Universidade na comunidade. Os pais das crianças autorizaram a divulgação. Foi no envolvimento com o projeto que Roy se deparou com ‘Crianças do Caminho’, título de sua primeira exposição. 

“Em Joinville, com sua colonização predominantemente alemã, não se fala sobre o papel da população afrodescendente na colonização da cidade, tampouco sobre suas tradições, memórias e cultura. Relatos históricos comprovam a utilização de mão de obra escrava na construção da então Colônia Dona Francisca”, explica Roy sobre a importância da mostra como meio de conhecimento, respeito e conscientização racial.

Mesmo sabendo que uma pessoa branca nunca vai compreender legitimamente o racismo, reflete Roy, ele entende que precisamos encontrar caminhos para discutir a estrutura racial enraizada em nossa sociedade. “Para isso é preciso ouvir, entender o que é lugar de fala e fortalecer o processo de empatia. Só assim podemos vislumbrar e contribuir para um futuro de igualdade e antirracista”.

E é exatamente sobre o futuro que Roy quer falar com sua exposição ‘Crianças do Caminho’. “O olhar puro das crianças que vivem nesta comunidade traz esperança de um mundo melhor. É por essas crianças que a sociedade precisa rever padrões, e não diminuir a dimensão dos problemas raciais e a falta de consciência humana que ainda vivemos até hoje”, critica. “É preciso olhar para si mesmo e entender seu lugar na sociedade e buscar conhecimento sobre educação racial e os reais impactos a sua volta.”

Quilombola

Com a abolição do sistema escravista de trabalho no Brasil, em 1888, a comunidade ex-escrava foi lançada às margens da sociedade e se agrupou em comunidades remanescentes de quilombos em locais mais isolados. Quando se fala em Quilombo, os esconderijos criados por escravos fugitivos na época do Brasil Colônia, imagina-se algo que acabou junto com a escravidão, porém muitas destas comunidades passaram gerações resistindo ao peso do tempo, e ainda existem atualmente.

Em Joinville, remanescentes quilombolas se estruturaram na comunidade Beco do Caminho Curto, no Distrito de Pirabeiraba, e vivem à margem da sociedade. Até hoje a localidade se depara com a falta de saneamento básico, energia elétrica e a escassez de horários do transporte público que dificultam uma rotina de trabalho e estudo. “Apesar disso, os moradores mantêm uma ligação sentimental com passado e se sentem acolhidos e protegidos pela comunidade e suas tradições.”

A boa notícia para os descendentes desta população veio com a publicação uma portaria da Fundação Cultural Palmares (FCP), no dia 10 de maio, no Diário Oficial da União, que certifica a comunidade como quilombola. A certificação amplia, ampara e valoriza o patrimônio cultural brasileiro e afro-brasileiro despercebido e desperdiçado. 

Projeto universitário

Com a intenção de entender, levar oportunidades e melhorias para a comunidade quilombola de Pirabeiraba, a Univille, em parceria com os professores Tales Vicenzi, do curso de História, Sirlei de Souza, do curso de Direito, e Jonathan Prateat, de Publicidade e Propaganda, criou o Projeto Caminho Curto, que começou em 2018 e promove atividades e oficinas envolvendo assuntos como direitos humanos, direitos ligados à terra, à saúde e à educação, considerados fundamentais no processo de certificação da comunidade como quilombola.

Sobre o artista

Roy Schulenburg tem 35 anos, nasceu em Florianópolis, mas vive em Joinville faz bastante tempo. É formado em design, especialista em design gráfico e estratégia corporativa, e mestre em design. Sempre gostou de experimentar: já trabalhou com graffiti, colagem e agora se dedica a fotografia e videografia. Gosta de fazer trilhas, viajar e vê a fotografia como um meio para se expor a coisas novas, aproveitar experiências novas, através das lentes das câmeras. Atualmente, trabalha como professor no ensino superior, lecionando nos cursos de Design, Fotografia, Engenharia de Software, Sistemas de Informação e nas especializações em Business Design e UX Design.

Com curadoria de Marc Engler, a exposição CRIANÇAS DO CAMINHO fica em cartaz na Galeria de Arte Garten de 22 de maio a 2 de julho. 

O que: Exposição de arte CRIANÇAS DO CAMINHO do Artista visual Roy Schulenburg na Galeria de Arte Garten.
Onde: Garten Shopping (em frente a Alô Bebê)
Quando: abertura dia 22 de maio às 19h30, visitação de 22 de maio a 3 de julho de 2019, de segunda a domingo, das 10h às 22h.
Quanto: gratuito

Contatos: (47) 99109-9958 ou roy@royzera.com.br Roy Schulenburg, (47) 99917-0067 ou marc.engler.arte@gmail.com (Marc Engler)