Na Grécia antiga, a participação das mulheres como atletas (e espectadoras) nos Jogos Olímpicos era proibida, e até mesmo o criador dos Jogos Olímpicos Modernos, o Barão de Coubertin, perpetuou a censura, que perdurou até quase metade do século XIX. De lá para cá, a participação pública das mulheres nos esportes experimentou grandes avanços. Hoje, as meninas jogam futebol e a Copa do Mundo de Futebol Feminino já vai para sua 9ª edição (em 2023). No entanto, as questões de gênero na atividade física ainda enfrentam desafios, especialmente na base: a educação. O assunto, tema da aula inaugural que marcou os 50 anos do curso de Educação Física da Univille, dia 28 de fevereiro, no auditório do campus, foi apresentado pelo professor da Universidade de Granada (Espanha) Pedro Angel Valdivia Moral. 

Estudos científicos comprovam que a prática de esportes coletivos na escola pode servir como meio de prevenção da violência. E, segundo Valdivia, pode contribuir também para promover a igualdade de gênero. Nos dois países, aulas mistas são obrigatórias nas escolas com financiamento público. Coletivo e misto sugerem um caminho para a inclusão e para desmistificar comentários preconceituosos como “ela não sabe porque é menina”.

Segundo o professor, avanços na área já são percebidos na Espanha, mas ainda há reforço de estereótipos e reprodução da desigualdade tanto por parte dos alunos (por conta da educação familiar) quanto por parte dos professores. A cultura sexista também é forte no Brasil. “Não há na Espanha formação nos estudos dos professores de educação física sobre igualdade de gênero, somente em umas poucas universidades”, enfatiza. “Existe o medo do professor de trabalhar conteúdos novos, principalmente homens. As licenciaturas já usam conteúdos nessa linha”, complementa. Na Univille a questão é aprimorada, além das aulas práticas, na disciplina Diversidade e Educação Inclusiva do curso. 

Valdivia fala em oito variáveis que podem ser trabalhadas na área em prol da igualdade de gênero, entre elas, além das agrupações (grupos mistos), a linguagem, o feedback, a avaliação dos alunos e os conteúdos. Na avaliação dos alunos, por exemplo, se o foco for rendimento, segundo ele, é preciso modular a análise considerando as diferenças biológicas distintas de homem e mulher. “Não estamos treinando esportistas, e sim profissionais para atuar na educação”, ressalta. 

O professor espanhol defende o uso de metodologias mistas, como novos materiais e divisão da classe em níveis, independente da preferência por futebol ou dança, ou quaisquer outras modalidades taxadas como “coisa de homem” ou “coisa de mulher”.  Ele afirma que é preciso dar aos alunos exemplos de esportistas bem-sucedidos, independente da modalidade. “Na Espanha, usamos como exemplo duas medalhistas de badminton e natação”.