Durante o mês de maio acontece a 68ª reunião anual do Comitê Científico da Comissão Internacional Baleeira (The International Whaling Commission - IWC) e um assunto de destaque esse ano será a toninha, um dos golfinhos mais ameaçados do mundo. A professora da Univille e a coordenadora do Projeto Toninhas/ UNIVILLE Marta Cremer foi convidada para representar a delegação brasileira no comitê científico de governo.

A IWC é um organismo global que reúne membros de pesquisa e governança de 88 países encarregados da conservação e manejo de cetáceos, que são os golfinhos e baleias. O protagonismo dado à toninha nesse ano se deve ao consenso internacional sobre o elevado risco de extinção da espécie. Em 2016, a Comissão aprovou o Plano de Manejo e Conservação da Toninha (Conservation and Management Plan), proposto pelos representantes dos três países onde a espécie é encontrada (Brasil, Uruguai e Argentina). O plano contém um conjunto de ações que visam proteger a espécie e reduzir as ameaças à toninha, em especial a captura acidental em redes de pesca.

“A IWC é um importante fórum de discussão sobre a conservação de mamíferos marinhos no mundo, e é onde os países assumem compromissos internacionais voltados à conservação. Ter a toninha como um dos principais pontos de discussão do evento nos indica o alto grau de ameaça em que a espécie se encontra e sua importância para a sustentabilidade dos ecossistemas costeiros”, comenta Marta Cremer, pesquisadora que há mais de 20 anos estuda a espécie.

Marta defende ainda a importância da ciência para a qualidade de vida da espécie humana. “Os últimos acontecimentos com o Covid-19 têm nos provado o quanto a pesquisa e conservação dos ecossistemas são imprescindíveis também à saúde humana. Hoje não conseguimos prever todos os danos que a extinção de um animal topo de cadeia como a toninha poderia trazer ao meio onde ela vive, a única certeza que temos é que não podemos correr o risco”, explica a cientista.

Em 2020, o encontro do Comitê Científico da IWC estava previsto para ocorrer em Cambridge, na Inglaterra, mas com a situação da pandemia ele irá ocorrer de forma virtual. As reuniões temáticas do Comitê iniciam no dia 12 de maio, mas desde a semana passada acontecem reuniões plenárias, que discutem a agenda e os encaminhamentos do evento.

 O Surgimento da Comissão Internacional Baleeira

A International Whaling Commission – IWC ou Comissão Internacional Baleeira – CIB, como é conhecida no Brasil, surgiu em 1946 para discutir a regulamentação da caça às baleias em um momento que essa prática era regular e comum em diversos países do mundo, ou seja, uma organização com fins comerciais destinadas à gestão internacional da exploração desses cetáceos enquanto recurso,. Com o passar do tempo, a própria comissão percebeu que esse grupo de animais não é um recurso sustentável e adequado à exploração humana e a partir disso adquiriu um caráter de proteção.

Hoje seus dois pilares sustentadores são conservação e bem-estar das espécies. Sob essa sustentação a IWC expandiu sua atuação e atualmente aborda uma larga gama de questões ligadas à proteção e conservação da biodiversidade marinha e seus ecossistemas, se envolvendo em temas de grande interesse internacional como as diretrizes para o turismo de observação de cetáceos, o emalhe de animais em redes de pesca e a caça de subsistência de povos aborígenes.

O Brasil tornou-se membro da IWC em 1974 e desde então, essa é a primeira vez que um animal endêmico do país é foco das discussões. Em 2015, o Projeto Toninhas/UNIVILLE organizou o workshop que deu origem ao Plano de Manejo e Conservação da Toninha, realizado em São Francisco do Sul, e que contou com a presença de cerca de 30 pesquisadores e representantes de governo dos três países envolvidos. Em 2016 o Plano foi apresentado e aprovado pela IWC e constituiu o primeiro plano voltado a uma espécie de golfinho.

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