Um estudo internacional reuniu 200 mil pacientes vítimas do Acidente Vascular Cerebral (AVC) e 2 milhões de indivíduos como controles - pessoas que não tiveram AVC, mas que convivem com os pacientes e estão expostos aos mesmos fatores que influenciam a ocorrência da doença - de cinco ancestralidades diferentes para identificação dos sinais preditores para o AVC. A Univille foi a única instituição do Brasil e da América Latina a participar do estudo, fornecendo amostras mantidas no Biobanco Univille dos pacientes com AVC e controles recrutados no Hospital Municipal São José, de Joinville, pelo Programa JOINVASC. O estudo foi co-liderado pela Universidade de Bordeaux (França) e Universidade LMU em Munique (Alemanha) com a participação de pesquisadores de mais de 20 países, tendo sido recentemente publicado online na Revista Nature, uma das principais revistas científicas do mundo.

O Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Univille, professor Paulo Henrique Condeixa de França, destaca a relevância das amostras e dados (clínicos, demográficos e socioeconômicos) de pacientes com AVC de Joinville que estão armazenados no Biobanco da Universidade (Joinville Stroke Biobank), o único Biobanco de AVC do Brasil na atualidade, com aprovação do Ministério da Saúde e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) há mais de 10 anos. Neste estudo, as informações coletadas pela Universidade foram as únicas que contribuíram para traçar o escore poligênico da população latino americana em relação à doença.

“É um estudo que abarca populações com ascendências genéticas muito diversas, enquanto estudos anteriores eram muito concentrados em populações que tinham ascendência europeia, basicamente caucasiana. Este estudo incluiu populações latino-americanas, como é o nosso caso, além de africanas e asiáticas. Então, o estudo tem enorme relevância porque amplia a investigação de variantes genômicas que possam ter relação com o risco ao AVC para outras populações.”, explica o professor.

E são os genomas, ou seja, nossa composição de DNA que cada um carrega em suas células, como destaca a professora da Univille Leslie Ecker Ferreira, coautora do estudo, que contêm as pequenas variações que justificam nossas diferenças em características metabólicas e algumas características de pré-disposição às doenças. Por muito tempo, as pesquisas destes perfis se concentraram na população caucasiana, mas agora, com a ampliação das populações estudadas ao redor do mundo, a torna mais precisa a identificação de características para a previsão do risco genético ao AVC, como também para o desenvolvimento de medicamentos para o tratamento precoce e prevenção nos pacientes com pré-disposição.

Este trabalho é pioneiro por identificar, nos pacientes, 89 regiões (61 novas) do genoma associadas ao AVC. Além disso, a partir dos resultados dos ensaios clínicos realizados, os pesquisadores identificaram que o acidente vascular cerebral pode acontecer, independente dos fatores clínicos já bem conhecidos como hipertensão e tabagismo, naqueles com as variantes predisponentes.

“Para nós é um orgulho! São muitos anos de investimento contínuo com recursos próprios da Univille e dos parceiros de financiamentos, como a Fapesc e o CNPq, e isso tem gerado muitas teses e dissertações no Programa de Pós-Graduação em Saúde e Meio Ambiente, assim como trabalhos de estudantes de graduação. Um acúmulo de conhecimento e produção científica que nos dá visibilidade a ponto de sermos chamados a integrar equipes internacionais, pois a relevância do JOINVASC e do Biobanco é reconhecida para fora dos nossos muros. Para nós é uma satisfação e, para além disso, em termos de legado, é gerar ciência com o foco na nossa população (pesquisadores, pacientes, equipes multidisciplinares), que é sempre disposta a participar”, finaliza Paulo França.

A pesquisa em Joinville

Em Joinville, o Biobanco da Univille realiza estudos comparativos dos casos confirmados de AVC, dentro do Registro Epidemiológico JOINVASC, e dos indivíduos controle (pessoas que convivem com os pacientes), identificados como não consanguíneos, ou seja, que não têm relação de parentalidade direta, mas estão expostos às mesmas condições ambientais, sendo afetados por diversos fatores equivalentes, como poluição, estilo de vida, alimentação, etc. Na atualidade, o Biobanco conta com cerca de 8 mil indivíduos monitorados, sendo pouco mais da metade deste montante são indivíduos controle.